A realidade das Auxiliares de Desenvolvimento Infantil (ADIs) do município virou um retrato fiel da precarização no serviço público. Além das funções previstas em lei, essas profissionais estão assumindo o cuidado direto de crianças autistas e com outros transtornos do desenvolvimento — uma responsabilidade pesada, especializada e totalmente fora das atribuições legais do cargo atual. O problema é claro: o município não possui o cargo de ADI de Apoio Especializado, e sem essa função criada por lei, todo o trabalho cai nas costas das ADIs comuns, que atuam sem formação adequada, sem respaldo jurídico e sem remuneração compatível.
Por lei, o papel das ADIs deveria se limitar ao apoio pedagógico, recreação, higiene, alimentação e organização da rotina escolar. Mas na prática, essas trabalhadoras têm atuado como cuidadoras especializadas, lidando diariamente com demandas complexas de inclusão, comportamento, comunicação e suporte individualizado para crianças autistas. É um trabalho que exige preparo, atenção constante e esforço físico e emocional — e que não é reconhecido.
A categoria cobra desde o início de 2024 que a prefeitura crie oficialmente o cargo de ADI de Apoio Especializado, estabeleça direitos, defina funções e ofereça formação continuada. A pauta inclui ainda o pagamento de insalubridade, redução de carga horária, garantia de kits higiênicos, validação de atestados sem corte de vale e políticas de valorização dos profissionais de apoio. Mas o ponto mais urgente segue ignorado: regularizar uma função que hoje é executada sem estrutura, sem respaldo legal e sem reconhecimento adequado.
Um colaborador da área da educação disse ao Pé Rachado, com exclusividade, que a prefeitura chegou a prometer que pagaria a insalubridade e que criaria medidas para organizar a função de apoio especializado. Contudo, desde a reunião e desde a matéria publicada pelo Jornal Oeste em agosto, nada saiu do lugar. As promessas foram feitas, mas nenhuma ação concreta chegou às escolas.
Enquanto isso, as ADIs seguem na linha de frente, cuidando de crianças autistas com dedicação, mas sem reconhecimento. “A gente faz tudo, mas não existe no papel. Não existe cargo, não existe formação, não existe valorização. Só cobrança”, desabafa uma das trabalhadoras.
Sem a criação imediata do cargo de ADI de Apoio Especializado, a inclusão escolar no município continua sendo sustentada por profissionais que trabalham muito, recebem pouco e seguem invisíveis aos olhos da gestão.




